sábado, 7 de fevereiro de 2009

VERÃO

Era uma linda tarde de verão. Linda como só as tardes de verão podem ser. Os pés fincados na areia, sentindo a textura granulosa entre os dedos, sentindo o contato direto com aquela praia, com a natureza. A cidade era um pensamento esquecido, assim como tudo o que ela poderia evocar. Tudo era aquele momento, o sol começando a descer e deixar reluzentes as ondas do mar, que se abria, infinito, à sua frente. Tudo era aquela praia, aquele verão, aquela falta de preocupações, aquelas amigas ao seu lado, uma, inclusive, no seu colo. De repente, um comentário esdrúxulo, bobo mesmo, e tudo se ilumina ainda mais com gargalhadas. É tudo tão leve, tão fácil, tão amável que gargalham às lágrimas, respiram um pouco, olham-se umas às outras e recomeçam a gargalhar. São jovens, mas já podem viajar sem os pais. Alugaram uma casa, compraram um bocado de cerveja e, claro, vodca para os coquetéis básicos (aliás, àquela altura elas já haviam tomado duas jarras de uma refrescante batida de acerola e estavam superiormente alegres). Mas a felicidade que sentiam se devia muito pouco ao álcool. Havia outros fatores mais importantes: o fato de serem férias (melhor ainda: férias na praia), o fato de serem amigas desde a recém-passada infância (o que pra elas é o tempo de uma vida), o fato de se sentirem livres e donas de si.

O sol foi caindo e tingindo de tons avermelhados a areia e os coqueirais, suas peles já douradas pelos dias sob o sol tornaram-se ainda mais douradas com a luz crepuscular. Crepúsculo que trouxe sobre elas uma certa melancolia poética, uma saudade não sei de quê, não sei de onde. Se aninharam ainda mais juntas umas das outras para se esquentarem mutuamente, já que a brisa que anuncia a chegada da noite começara a soprar. A tarde caiu sobre elas em forma de ternura, de carinho, cuidado, de intimidade sem pudores. Eram amigas, enfim. Estavam juntas sendo elas e delas mesmas e de mais ninguém. Haveria os homens mais tarde, à noite, na balada, é certo, cada qual com o(s) seu(s). Mas, naquele momento, só o momento importava: se bastavam elas, a praia, a tarde e o mar: o verão.

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