quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

DEIXA SER COMO SERÁ

Porque do jeito que está sendo não dá. Não adianta forçar a barra, só traz mais dor pra mim e mais rejeição pra ela. Papel ridículo ontem. Papel de intruso, de colecionador de sorrisos amarelos. Um alienígena presente ali só por educação e piedade. Como consegui me humilhar tanto? Achei que fosse melhor do que passar a tarde olhando pro teto, como têm sido minhas últimas tardes. E até foi, não tivera eu esse senso de autocrítica tardia. Olhá-las existindo sempre é um espetáculo belo e alegre, mas, como borboletas, fogem à ameaça de aproximação, migram para lugar longe e seguro e fico eu, cerveja quente na mão e cara de tacho. Mal sabem que nem coragem tenho de tocar-lhes as asas.

De qualquer forma, parei com isso de me convidar. Dói e é mais humilhante o sentimento de intromissão que a beleza de vê-las borboleteando pela vida. Deixa ser como será. Se é que há outra forma de ser. Sempre há. Sempre há de haver.


Ao resto da minha vida que também está nesse impasse moribundo e doente: deixa ser como será!

sábado, 17 de janeiro de 2009

BEIJOS VOADORES


Reserva de agoras onde nada não havia. Montes de senãos onde só talvezes existiam. Toda a corriqueira vida, toda a coceira criativa, mãos desenhando gestos no ar. Gestos sem significado ou intenção, gestos delicados e sem exaltação. Gestos apenas, gastos apenas. Coisas sem sentido como essas que escrevo, só pelo ato, só pelo ritmo, só para preencher o vazio de uma noite fria e sozinha. Pequenos beijos voam a minha volta sem me tocar. Com medo de mim. A barba coça uma coceira que é mais mania de coçar que qualquer irritação. Coço o cabelo, mas não pego nenhum beijo voador. Eles são rápidos e esquivos. Ah, como é bom escrever só por escrever. Melhor ainda escrever quando se tem algo a dizer. Aí talvez merecesse um beijo voador, na testa ao menos.

Estou com medo de começar Algo aqui (e em qualquer lugar).

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

UM DIA AINDA DESCUBRO


Verdade seja dita, sempre fui um bon-vivant na medida em que me foi possível. Mesmo assim acho incrível como se escondeu tão rápido dentro de mim o bolalaranja dono e ator de suas verdades, o bolalaranja pronto pra guerra, combativo, confiante. Como tudo isso definhou, virou flor murcha. É óbvio para mim que eles me querem de volta dentro dos padrões deles de controle e comportamento. Indiscutível que eu me submeti. Fui tomado por um medo infantil, por um sentimento de insegurança/incompetência/incapacidade. Tornei-me, subitamente, frágil, quebradiço e quebrado. Mas por quê? E por que assim tão depressa? Por que me vi e vejo tão cercado de sufocantes pressões? Quem as faz? Eu mesmo? Minha mãe? Minha mãe me infantiliza? Se, sim, por que me deixo infantilizar? Por que não continuo homem, dono da minha vida? Um dia ainda descubro.

XXXX

Uma possibilidade levantada hoje para esta recente montanha-russa emocional é que eu sofra de transtorno bipolar, seja maníaco-depressivo, em outras palavras, talvez eu possua uma disfunção fisiológica no cérebro que faz com que meu humor oscile entre dois extremos: euforia e depressão. Pode ser. O que é uma droga, porque isso me faz sentir menos no controle de mim, das minhas emoções. Isso me faz questionar, na verdade, até onde as emoções são minhas e até onde elas devam permanecer minhas, inalteradas pela medicação. Onde deve ser traçada a linha que separa minhas emoções normais das minhas emoções patológicas, “exageradas”? Quem traça essa linha? Eu ou o terapeuta ou os meus pais? Acredito que o que deva nortear este traçado é a percepção de quão prejudiciais as emoções exacerbadas são para minha vida e tentar eliminá-las, limá-las, poli-las. A dúvida que surge é como saber que não estão limando emoções que não me são prejudiciais, que me são necessárias? Por exemplo, minha libido diminuiu bastante (não que eu me incomode muito, pois relacionamentos são coisas complicadas e eu não sou um bom companheiro). Mas e o resto? Como vou saber? Como vou saber se sinto tudo o que mereço ou devo sentir? Não sei. Só sei que não quero sofrer. Em não sofrendo, todo o resto é válido e todo questionamento é fútil.

domingo, 11 de janeiro de 2009

SINTOMAS


Recife, 11 de janeiro de 2009.

Fracasso e morte. Fracasso e morte. Fracasso e morte. Pensamentos obviamente depressivos. Meus pensamentos em todos os momentos em que estou só comigo mesmo. É uma rotina mental torturante e chata. Prefiro até raiva, que é uma coisa mais ativa, à essa passividade mórbida deprimente e deprimida. Sofro dessas frescuras, dessas covardias, desse desânimo maior que eu. Estou me sentindo encurralado, pressionado, esmagado pelo peso invisível, mas nem por isso menos tangível, de que tudo o que eu planejei deu errado. E não tenho ânimo para tentar qualquer outra coisa, nem qualquer mesma coisa, não tenho vontade de nada. Talvez de uma bala na cabeça. Desde que seja indolor. Isso seria bom. Me libertar de uma vez por todas dessa condição humana deplorável em que me encontro. Ou que talvez sempre tenha sido. Sei que isso é depressão, já estive aqui antes. Nada é tão negro assim, em verdade. É só a verdade como ela se apresenta agora, através dos meus olhos doentes. Tenho que ter paciência, mas acho que o mundo ao meu redor não está com tanta paciência assim. “Ele não faz nada” são palavras que já ouço ecoar aqui e lá. Aqui dentro elas ecoam. Estou com medo desse cansaço da vida. É uma doença, eu sei, mas tão real. Fracasso e morte. Fracasso e morte, Fracasso e morte. Esse é o meu mantra estes dias. E que dias tristonhos e sombrios são.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O TÉDIO É A ESPERA

OU VICE-VERSA


Recife, 5 de janeiro de 2009.

O tédio é a espera. A espera é o tédio. Cheguei a esta óbvia conclusão nestes últimos dias de tédio e espera. Minha vida tem sido de tédio e espera. Escrever é uma fuga desses dois males de quem tem tudo, todas as necessidades básicas satisfeitas (e algumas supérfluas também). Não que eu não precise buscar algo. Eu preciso justamente buscar Algo. Mas não posso por enquanto, por isso espero. Entediado. Mas meu irmão viajou e as engrenagens podem de novo girar em prol dos meus sonhos.

Ainda sobre busca, não acredito que haja uma pessoa sequer sem algo para buscar. Todas elas, todos nós temos algo a alcançar. Mesmo que não saibamos exatamente o que. Todo tédio é espera, por algo, por uma mudança deste estado de tédio para um estado superior, mais interessante, mais preenchedor. Todo tédio é a véspera da ação. O tédio leva irremediavelmente à ação. Não consigo ver de outra forma. Não consigo conceber alguém vivendo apenas de tédio. É viver de nada, de vazio, de espera, é perda de tempo. Tempo que já nos é escasso. São nos dadas míseras décadas em meio aos bilhões de anos de existência do universo. Quando estas míseras décadas nos parecem tempo demais, algo está errado. Algo está errado quando o tédio, a melancolia, o desgosto (que são todas faces mais ou menos agudas de um mesmo triste cristal) estão dominando a alma. A vida é curta para estes sentimentos. Curta a vida. Faça loucuras. Só não faça a loucura de desistir dela. Peça ajuda, brigue com todo o mundo, arrume as malas e parta, só não desista. O mundo tem um lugar pra você, você só precisa encontrar e conquistar este lugar. Tem que ser um lugar que lhe dê prazer de estar, onde as coisas fluam fácil, onde as dificuldades sejam encaradas como desafios, com o mínimo de tédio e espera possível. Tédio e espera muitas vezes se travestem de segurança, mas é preciso pesar o ônus desta segurança e o quanto a necessidade desta é fruto de uma insegurança interior.

Em uma palavra, não tenha medo de mudar, a vida é uma só e é somente sua. Não a desperdice com ilusões, espera e tédio. Eu percebi que a segurança que eu tinha me deixava infeliz e covarde, enchi meu peito de renovado ar e mudei. E, se estou entediado agora é porque sei que minha espera é momentânea e necessária ante o próximo passo. Como uma criança que descobre/conquista a liberdade de andar, eu dei o primeiro grande passo. Agora me equilibro e me acostumo com a nova situação de ser andante para dar o segundo. O terceiro virá mais rápido e, quando menos esperar, estarei correndo, livre, pelo mundo. Na direção que me apraz, de mãos dadas com as pessoas que eu amo e/ou posso ajudar.

domingo, 4 de janeiro de 2009

A OSTRA EQUILIBRISTA


Recife, 4 de janeiro de 2009.

Estou numa fase de ostracismo e de não pertencer a lugar nenhum. É difícil se sentir ostra sem ter casa para se esconder. Ou sem ter lugar na casa alheia para chamar de seu. O lugar mais meu, onde me sinto mais tranqüilamente ostra é do lado de fora da casa de mamãe, no fumódromo (posto que não posso fumar dentro da casa dela). O outro lugar é com Nice e Tânia, na cozinha da casa da minha tia, no apartamento ao lado. Mas minha tia está viajando. Foi para Areias, com a bela, com a menina-mulher-flor dos meus desejos, onde passarão uma semana. Contar do meu desejo de estar lá, em Areias, neste momento, é chafurdar o óbvio. Mas estarei lá, dentro de, no máximo, duas dúzias de dias. Espero que os ecos de suas existências estejam ainda assombrando a casa de alegria e feminilidade quando eu aportar. Minha imaginação certamente pintará tais assombrações para encantar um pouco mais a já encantada casa de Areias. Tudo depende de Joyce aceitar perder ou passar um mês comigo lá. Ela já havia aventado o desejo de passar alguns dias em Areias, mas nada perto de um mês inteiro. Não sei se vai ser fácil ou mesmo possível convencê-la a passar um período tão extenso (para ela), por isso protelo o contato e a proposta. De qualquer forma, com ou sem Joyce, esse é o meu desejo, a casa de Areias é o lugar perfeito para parir Algo. Se Algo deve mesmo vir a ver a luz do dia, que sejam as manhãs magníficas de Areias, com seus pássaros e farfalhar de coqueiros e seus silêncios de toda e qualquer gente.


Outro lugar onde consigo ser ostra além do fumódromo e da mesa da cozinha com Tânia e Nice é na frente deste computador, embora suas teclas não se entreguem totalmente a mim, afinal é o computador da minha mãe. Mas, uma vez imerso nos meus pensamentos/dígitos, eu me sinto livre e meu e num lugar sagrado e impenetrável como casca de ostra. É bom. Uma janela para o meu mundo se abre onde as paredes me renegam, me expelem, me olham torto, torcendo o nariz. Me assusta o fato de não conseguir conceber outro lugar no mundo, pelo menos neste de agora que construí, onde as paredes façam diferente. Em todos os lugares que entro, entro passageiro, entro pré-expelido, momentâneo, hóspede. Não tenho lar. Essa foi a minha escolha, foi isso que troquei pela minha liberdade. Não tenho emprego, não tenho lar, mas tenho liberdade. O chato é que a liberdade, prêmio máximo, ainda não se manifestou plena; seus ônus, por outro lado, já pesam meus flancos. Não imaginei que seria assim e penso que assim o seja por uma inércia minha, por uma covardia e passividade minhas, pelo medo de tomar minha liberdade e sair correndo com ela. É muito ruim não ter lar, não havia contado com isso. Nunca passei por isso antes. Não vi essa perda de lar acontecer, mas a sinto, clara e sólida dentro de mim.


Para a minha liberdade, falta-me a minha janela própria para o meu mundo. Falta-me o meu computador. Preciso resolver isso. Porém, há o pedido de só colocar as últimas engrenagens da minha nova vida para girar depois que o meu irmão partir de volta para o exterior. Soube que ele partirá hoje (amanhã) de madrugada. Isso me agrada e assusta. É tudo tão novo e tão esperado ao mesmo tempo. Tudo pode dar tão mais errado que certo. E me agarro no fio finíssimo e dourado da esperança. Esperança de que o que eu tenho pra dizer é válido, de que as pessoas vão querer ouvir, de que eu vou poder me sustentar destas palavras ditas com prazer e nunca precisar mais das outras, ditas por mercantilismo. É um sonho romântico, eu sei. Muitas pessoas o sonham e acordam no fracasso. Mas a mim me parece que nunca será um fracasso completo se você for capaz de tentar e criar e parir o seu sonho. Poucas pessoas o fazem e as que têm coragem, mesmo que não alcancem o sucesso editorial, alcançam um outro sucesso, interior, mais perene e profundo. E é esse que eu busco a priori (a posteriori, claro que quero ser lido por muitos). Preciso, quero calar essas vozes dentro de mim. Esses vários eus exigindo meus dedos, meus braços, meus olhos, meu coração, para sair da ostra das idéias e ganhar o mundo, mesmo que aprisionados fiquem em uma página de papel nalgum canto esquecido de estante.


Medo e esperança. Coragem e covardia. Sou agora um equilibrista de motivações e sentimentos e vontades.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

SOBRE ESCREVER I

OU COITO INTERROMPIDO

Recife, 2 de janeiro de 2009.

Gostaria de ser pago para fazer isso: escrever por prazer, para dizer as palavras que quero ditas, para me mostrar, contar o que há ao redor, sentir e entender sentimentos; sim porque quando escrevo sinto e sinto o que escrevo. Às vezes me sinto pianista em pleno solo, as teclas ecoando uma sinfonia de sentidos, sons, sílabas, de ritmos, de pausas, entonações, conotações, denotações, emoções, razões, situações, opiniões... e sabe-se lá quantos mais ões... é delicioso. Deveria ser rentável também.

Às vezes, depois que escrevo, passado algum tempo, me espanto/estranho de ver que aquilo saiu de mim. Muitas vezes me parece a voz de um outro eu que ficou para trás. Noutras é como se me projetasse para dentro deste antigo eu e me transportasse para aquele tempo, para aquele universo situacional e emocional em que estava então imerso. O peito geme mais uma vez a mesma canção de outrora, com os seus acordes sofridos ou dourados.

A TV foi ligada aqui ao lado, sua cacofonia me aborrece nesse momento. Tira a minha concentração, abafa a minha poesia, me traz para um mundo mais amplo e menos meu. Em uma palavra, atrai a porra da minha atenção. Agora lascou, o telejornal. A voz em primeiro plano e a boa dicção exigidas acabaram comigo. Não consigo não prestar atenção. Vou fazer alguma coisa enquanto há televisão aqui. Depois volto.

MENINAS-MULHERES-FLOR

OU CARTA DE AMOR II

Recife, 2 de janeiro de 2009.

Elas estão todas lá, ninfas, lindas, mulherezinhas em flor. Recém-desabrochadas, no auge do esplendor e viço, com todas as suas pétalas, suas cores e exuberâncias. Ouço as vozes contando e gritando sobre as paixões assoberbadas da idade, som de juventude, de frescor e energia. Como são lindas essas meninas-mulheres-flor. Como é lindo esse ápice do ciclo de suas vidas. Como a vida ao redor parece tornar-se mais natural, mais espontânea e mais intensa com a bênção graciosa de suas presenças. Como fico feliz em poder entrar lá, pela porta da cozinha a guisa de um café e de uma conversa com Nice. E poder, da cozinha, espiar lampejos e frestas de suas existências, do balé encantado de vozes e gestos que se monta quando se encontram. São fadas. Amaria todas elas se meu coração já não pertencesse a apenas uma. Singela flor-fada-menina-mulher.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

2009,O MEDO E A CORAGEM

Recife, 1º de janeiro de 2009.

2009 começou. Estou com muito medo do momento que criei para esta fase da minha vida. A mim me parece agora que o medo é o que sucede a coragem depois que o sangue esfria. E isso é mau. Não posso deixar o sangue esfriar. Tenho que manter esse desejo que me moveu pulsando, ou a coragem vai tomar mais e mais ares de estupidez (como, aliás, já é vista por quase todos que me cercam [à exceção de Joyce e L.]). Larguei o trabalho para perseguir o meu sonho. Ouvi o grito interior que, naquela noite decisiva, me pareceu maior que eu e que o resto, me pareceu tudo. O meu sonho abriu suas asas, majestoso e magnífico, e pediu meu corpo para que pudesse alçar vôo. Eu, encantado com a possibilidade de servir ao que sinto serem meus verdadeiros propósitos, finalmente, resolvi me entregar. É o que sempre quis mesmo que sempre tenha me parecido perigoso demais, incerto demais, grande demais para dar conta. Decidi arriscar e não passar o resto de mim perguntando a mais terrível das perguntas: “e se...?”

Breve pretendo estar em Areias, onde o trabalho de parto vai começar. Contrações fortes me fazem postar aqui. Mas só na paz de Areias poderei ser livre e meu o suficiente para criar Algo.

Estou com medo, pois minha vida está sem depois, não há aquela estabilidade preguiçosa da fonte de renda, do emprego garantido, do lar, do dinheiro pra comprar cigarro. Há apenas a minha obra, que os outros chamam de delírio. Creiam em mim, é difícil manter-se convicto quando você é a única pessoa que acredita. Mas agora já foi. Já fechei as portas que precisava fechar e outras tantas me foram fechadas em decorrência. Nunca me senti tão só. Tem sido instrutivo e destrutivo e construtivo ao mesmo tempo. Tenho que manter o espírito equilibrado e tranqüilo. Espantar esse medo que vem como febre e que custa a passar. Quero estar logo em Areias. Quero logo estar cara a cara com Algo, sem desculpas para delongas, tendo como única opção parir.