quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

PONTADA


A depressão hoje me veio diferente. Embora tenha passado o dia já relativamente deprimido (ou seja desanimado, desestimulado e triste), não havia tido nenhuma vontade suicida até ainda há pouco. A sede de morte me veio como uma pontada, como se a alma latejasse de angústia e desespero por alguns minutos e depois calasse de volta à sua macambúzia tranqüilidade. Da mesma forma como veio se foi, como se tivesse sido levada pelo vento.

Ademais, a sede de morte tem me vindo geralmente durante a noite, antes do sono, quando a solidão daninha e implacável se abate sobre mim na treva do quarto. Quando ficamos só eu e meus pensamentos e quando estes se tornam o mais feios e desiludidos que podem ser. Eles me chamam para a varanda, para o pulo final. E repetem. E fico eu remoendo essa ânsia dilacerante do fim, insone, à espera de um sempre atrasado Morfeu vir me resgatar da minha consciência doentia.

Assim têm sido minhas noites. Os meus dias têm sido menos medonhos, mas longe de felizes. Claro que tenho minhas alegrias, mas elas são pintadas sobre um fundo nublado de melancolia. Como uma música que não se consegue apreciar devidamente por causa de um zumbido ou chiado. Chiado do ser. Zumbido da alma. Acho que é a porra do remédio quinzenal. Não, não é só isso. Tenho que ser sincero comigo mesmo. É essa porra de ter que ganhar dinheiro com o que eu não quero fazer. Voltar a redigir para publicidade não me fez bem. Fazer essas ilustrações não me faz bem. Não é o que eu quero. Simplesmente não é. O que eu quero é ter minha lojinha no eBay e outra no Mercado Livre. Mas já quis tanta coisa diferente e nada. Porra, continuo achando que a porra do remédio está me afetando. Tive outra latejada agora mesmo. Se não for o remédio, vou ficar sem muitas alternativas de a quem culpar. Culpar a mim? Mas isso eu já faço o tempo todo. E culpo a doença por isso. E culpo o remédio pela persistência da doença. E só não me acho uma garotinho filho da puta mimado porque existem outros como eu no mundo, que vivem à sombra do suicídio e que não conseguem nem o podem evitar. Mas eu sou uma garotinho filho da puta mimado. Eu sou um merda. Eu sou um merda. Eu sou um merda. Porque eu não me enquadro? Por que eu não me enquadro? Por que eu não me conformo, entro na porra da fôrma? De alguma fôrma qualquer, na qual eu não dê trabalho a seu ninguém. Na qual eu não precise de seu ninguém? Por quê? Por quê? Que raiva de mim, de ser eu, de não conseguir ser eu, de não conseguir deixar de sê-lo. Em espirais infinitas de desgosto por mim mesmo, lateja de novo a idéia: “a melhor fôrma que você pode ter é a de não ser, assim não dá mais trabalho a ninguém, nem precisará de ninguém”. A alma lateja, lateja à espera de dias mais felizes, que sei que virão. Sempre passa. Sempre passa. Sempre passa. Queria tanto um colo e me abraçar/enroscar bem apertado a ele. Mas, curiosamente, não o da minha mãe. De outra mulher. Queria nascer de novo. Ou desnascer.

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