sábado, 14 de fevereiro de 2009

LOUVA-A-DEUS


Era pra estar agora seguindo o bloco Pisando na Jaca, indo de encontro ao bloco Os Barbas, ou coisa que valha. Estava indo devolver Ensaio Sobre a Cegueira na locadora, quando cruzei com o primeiro bloco e duas amigas que me convidaram à folia. Meu primo já havia ido para o segundo, onde também estão vários da minha turma. Hesitei ao convite e, ao invés de segui-los, vim aqui escrever o que esse comportamento traduz tão claramente sobre o meu eu de hoje: eu quero estar lá, mas não quero ir até lá. Eu sei que é o contrário do dito taoísta de que mais vale o caminho que o destino final, mas é nessas vias que minha alma encara a vida nestes dias. Vias essas que, bem sei, não levam a lugar nenhum. Torço para que isso mude e tive indícios de que isso vai acontecer. Ontem à noite ao ir fumar no lugar que me é de costume (do lado de fora do apartamento, ao lado da porta de serviço) dei de cara com um enorme (e, para mim, urbanóide, assustador) louva-a-deus, de uns dez centímetros de comprimento. Pouco menos de um mês atrás, nas mesmas condições havia postado-se na área de serviço uma esperança. Ambos os insetos são sinônimo de boa-aventurança na crendice popular e o encontro de ambos num espaço tão curto de tempo inundou-me com saborosas expectativas de dias melhores. Não que eu seja dado à crendices, mas quem não o é um pouco quando essas se apresentam?

Dos pensamentos saborosos sobre sorte e fortuna, passei a pensar em probabilidade e seus mistérios. Qual a probabilidade de, em um intervalo tão curto de tempo, dois insetos tão raros nos centros urbanos virem a dar as caras num mesmo apartamento, localizado a onze andares do chão? Por que um deles não foi parar no apartamento ao lado, ou no que está abaixo? Que odor especial terá o meu apartamento para atraí-los? O odor da minha desgraça? Do meu cigarro? Bem pode ser este último, posto que fumo a não mais poder, mais do que qualquer outro morador das redondezas, tenho quase certeza.

De qualquer forma o pensamento sobre probabilidades foi atraído, como todos são, para Beatriz e fiquei a cismar sobre a probabilidade dela ter vindo ao mundo. Fosse o outro espermatozóide a ganhar a corrida, fosse o óvulo do período anterior o fecundado e não existiria Beatriz. E ela me seria inconcebível, inimaginável, como o são o resultado da fecundação do óvulo anterior ou o fruto do segundo espermatozóide mais esforçado. Mas duvido que viessem a ser mais maravilhosos e encantadores que ela. Não consigo imaginar como. Louvo a Deus por ter sido ela a sair daquele ventre abençoado e a me encher de esperanças.

XXXXX

Também fui resultado das mesmas (im)probabilidades, prova de que nem sempre o destino ou o acaso são tão sábios assim, porque senão não teriam botado no mundo uma batata quente que meu pai e minha mãe vivem a passar um à mão do outro, assim que lhos esquentam os dedos. Não queria ser um problema, mais o sou. Ou tenho um problema, o que dá no mesmo, para os que de fora assistem e suportam meu trôpego vagar pelos dias nas minhas condições atuais. Muitas vezes, sinto que acham que é tudo fingimento, preguiça, mimo. Muitas vezes penso eu o mesmo. Mas aí me lembro dos dias bons em que era produtivo, em que não dava trabalho, em que tinha um trabalho, e tento me convencer que não é só isso. Sei que deve ser chato a algum possível e improvável leitor, ficar falando das minhas mazelas existenciais, mas são elas o principal assunto dentro de mim. Elas e Beatriz, como já deve ter ficado claro (só que sei que, de amor, ninguém cansa de ouvir nem de falar [já de desamor, ainda mais por sigo próprio, ninguém quer saber]). Mas esta é a vantagem de escrever um blog para ninguém, posso dizer o que quiser.

Vou contrariar meu estado de espírito atual, tomar um banho e ir atrás do bloco. Preciso fazer isso para sentir que luto contra o meu mal. Se bem que preferia que Beatriz chegasse e eu descobrisse para onde ela e os amigos iam e tentar arrumar um espaço para mim. Ah, não posso fazer isso. Combinei comigo mesmo que não mais o faria, para não constrangê-la. Tomar banho e ir pro bloco. Ai, como isto vai me custar. Espero que os benefícios compensem (embora saiba que não). No próximo post conto como foi (é ridículo falar como se houvesse alguém além de mim a ler essa parvalhada, mas é gostoso viver com tais imaginações).

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