sábado, 29 de agosto de 2009

COREOGRAFIA SOCIAL

Me sinto meio um mico adestrado quando em um show o cantor pede para “jogar as mãos para cima” ou outras ordens coreográficas do gênero. Não tenho mais saco para isso. Não tenho mais saco para nada. Não tenho interesse por nada. A vida passa batida pelos meus olhos. Acho que o tratamento psiquiátrico não está surtindo muito efeito e o trabalho está sendo algo extremamente desgostoso de se levar. Estou pensando seriamente em sair da sociedade, dispensar todas as benesses que fazer parte da coreografia social proporciona (como também de suas dores) e viver livre, solto no mundo, sem obrigações, sem responsabilidades, a não ser para com minhas necessidades básicas (cagar, comer e dormir). Virar um mendigo, em síntese. Não sei como, sem dinheiro, eu vou conseguir comer, nem sei onde os mendigos cagam e como limpam suas bundas. Vou ter que descobrir, quem sabe perguntando a eles.

E se algum desses matadores de mendigos aparecer para mim, tanto melhor. Não quero mais a vida, não espero mais nada dela, não tenho sonhos, nem desejos. A vida dura muito mais do que precisaria para mim. Já vivi tudo o que deveria ou gostaria. Estou mais do que satisfeito com as experiências que eu já tive, das doces às amaras. Vivo agora a espera da morte e ela me parece desnecessariamente distante. Não é legal viver assim, principalmente quando essa espera é preenchida por afazeres desagradáveis e por sentimentos negativos. Prefiro me livrar do que me desagrada, mesmo que isso leve embora também o que me é aprazível. Não quero nada material, quero ter paz de espírito. Há muito tempo não sei o que é isso. Estou prestes a pedir demissão e com isso não terei mais renda. Não quero ser um estorvo financeiro para os meus pais, por isso a mendicância me parece a única saída. Pelo menos até que eu encontre a saída definitiva.

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