segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

EFEITOS DA CEGUEIRA



Acho que falarei de obviedades aqui, mas quem nunca o fez que atire a primeira pedra.

Depois que acabei de ler o Ensaio Sobre a Cegueira fico vendo comportamentos como os dos cegos em todo lugar. Acredito que no Brasil, nem precisaríamos estar cegos para que sucedesse o que sucedeu no manicômio do livro. Bastaria jogar-nos lá. Acho que falta à maioria de nós a casca sócio-cultural de alguns séculos de civilização para nos servir de impedimento de fazer às claras e à vista de todo mundo o que no livro está descrito. Aliás estando todos nós às nossas próprias leis (ou melhor dizendo, às leis de ninguém) e enxergando, o caos seria muito maior que o contado no livro (já isso em qualquer lugar do mundo, creio). O homem em pânico torna-se tão animal quanto qualquer outro, fica desprovido das leis de convivência ou respeito que reprimam seus atos, agindo apenas pelo impulso/instinto de se livrar da causa do pânico. Em multidões, o pânico se manifesta de forma ainda mais assustadora e bestial, vira-se uma massa desordenada de imbecis desesperados, pior do que uma manada de gazelas perseguida por leões (posto que as gazelas são acostumadas a mover-se em grandes grupos e o homem não).

Saramago usou a cegueira como lente para amplificar o que de pior há no homem, mas nem precisava, no nosso dia-a-dia existe um lente de igual potência e impacto: o trânsito. É atrás de um volante que a verdadeira personalidade das pessoas se revela. Não faltam em nossas ruas, a cada esquina ou semáforo alguém desrespeitando a norma, alguém querendo levar vantagem, alguém sendo agressivo, buzinando, xingando, pressionando, fechando, atropelando. Me é enervante, a mim que não dirijo, ver os espertinhos e os espertalhões atrapalhando o trânsito ao fazer suas mirabolantes e arriscadas manobras na ambição de ganhar alguns segundos de vantagem. Me doem nos nervos aqueles que, um milésimo de segundo depois de aberto o sinal, têm como reflexo instantâneo atolar a mão na buzina como se estivesse a tanger bois. E somos pior que bois no trâsito, pois bois conseguem andar em conjunto, sem se enfiarem uns na frente dos outros para atrapalhar o andar do grupo. Há nos bois um senso de comunidade, que não há no trânsito.

Como se vê, minha própria natureza aflora no trânsito, minha ira para com aqueles que se acham melhores e podem mais que os outros em seus veícuilos me ataca infalivelmente, mesmo que eu não saiba dirigir e só ande como passageiro.

Acredito que o trânsito é o melhor e mais perfeito termômetro do nível de civilidade de uma sociedade. Não é preciso cegueira para saber do pior e do melhor de um ser humano, basta dar-lhe as chaves de um veículo.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

SUPER-HERÓIS


Não fui ao bloco como prometido no post passado. Não por falta de iniciativa, mas porque ao contatar meu primo, este me disse já estar de partida, assim como o resto dos amigos. Foi com grande alívio que recebi a notícia, pois minha disposição em ir beirava a indisposição. A noite porém, não estava perdida, havia a prévia do Enquanto Isso na Sala da Justiça. Tinha R$ 40,00 comigo (troco da compra do ingresso do show do Radiohead [para o qual não sei como vou, pois não tenho dinheiro para passagens, mas isso é outro assunto]) e somente o ingresso para entrar na prévia custava R$ 50,00. Sabia que Beatriz iria estar lá. Então, pedi emprestada a quantia à minha mãe. Arrumei uma fantasia de maracatu com a minha tia e uma carona numa van com meu primo e lá fomos nós. Logo à entrada, fui barrado por estar segurando uma lata de cerveja que não quis desperdiçar por estar quase cheia e, por isso acabei me desvencilhando dos meus amigos e me perdendo deles. E perdido fiquei até o final da festa. Passei dois terços do tempo em que lá estive rodando à procura da turma e nada. Encontrei muitas pessoas que não procurava e me diverti um pouco com cada uma delas. (Me disseram no dia seguinte - hoje - que passei várias vezes a poucos metros de onde a turma estava, mas não nos vimos, mesmo eu estando com uma peruca de maracatu com coloridos e reluzentes fios metalizados. Irônico o destino como só ele sabe ser). Por não ter com quem voltar, parei de beber logo no início(a cerveja estava exorbitantemente cara), temendo ter que pagar sozinho a corrida de táxi da volta.
Nas minhas andanças, percebi que a fantasia de homem das cavernas finalmente começou a sair de moda, pois não vi mais que cinco deles (geralmente eram dezenas). Por outro lado, Welma, da turma do Scooby-doo estava em alta, vi quatro garotas com a fantasia. Outra que fez sucesso esse ano foi a de uma mistura de empregada de saias curtas, com tirolesa, com playmate. Vi umas dez deliciosas figuras. As She-Ras também marcaram presença, cruzei com pelo menos cinco delas. Mendigos eram outros que abundavam.

Neste ano, finalmente a galera dos games aprendeu a beber cerveja. Encontrei Marios (Marias?) Bros., peças de Tetris, lutadores de Street Fighter e Mortal Kombat, Sonic, Luigi, soube de uma turma que foi fantasiada de Mario Kart e o meu próprio primo foi de Shy Guy (inimigo de Mario). Vi alguns guardas de trânsito (homens e mulheres), uns três Batmans (sempre uma fantasia muito bem cuidada), mas ainda bem que eles estavam de folga naquele dia pois a população de curingas (no estilo visual do filme The Dark Knight) estava espantadoramente alta, sem dúvida uma das prediletas da galera. Vi um Elvis e ele estava bem vivo e animado. Vi também, hilário, um anão fantasiado de Mestre dos Magos.

É, pelo menos minha solidão me deu a oportunidade de observar os outros e, principalmente as outras, pois havia muitas super-beldades a transitar pelo espaço, que era climatizado e nunca chegou a ficar insuportavelmente lotado, sendo possível o deslocamento tranqüilo por praticamente todo lugar.

Só fui dançar no final, a incentivo de uma amiga de Bia (que também não a havia encontrado). Ela me empurrou de leve pelas costas e disse “vai, samba, que isto é Brasil”. Tão delicada e meiga ela foi, tão bela a frase, que me permiti dançar umas três músicas com meu samba de robô. Quando olhei pra trás, havia sumido. Isso já eram cinco e meia da manhã.

Resolvi sair e esperar lá fora que alguém conhecido aparecesse, afinal, se havia de encontrar alguém seria na saída, pois só havia uma. E foi no que deu. Encontrei Bia e o Shy Guy e voltamos de táxi juntos. Poderia ter tomado mais 3 cervejas, afinal. Mas não havia como sabê-lo. E a vi. Mesmo que no final. Estava de Superficial (algo que é o oposto do seu alter-ego cotidiano). Nem Batman poderia ter escolhido uma fantasia que escondesse melhor sua verdadeira identidade.
XXXX
Ah, e encontrei Juninho Rocha! Com uma cicatriz enorme na barriga! O resto estava do mesmo jeito inconfundível e inesquecível. Ele me seguiu pra todo canto até o momento de nos perdermos. Depois não mais o vi... vai ver que sua fantasia era de Homem Invisível.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

LOUVA-A-DEUS


Era pra estar agora seguindo o bloco Pisando na Jaca, indo de encontro ao bloco Os Barbas, ou coisa que valha. Estava indo devolver Ensaio Sobre a Cegueira na locadora, quando cruzei com o primeiro bloco e duas amigas que me convidaram à folia. Meu primo já havia ido para o segundo, onde também estão vários da minha turma. Hesitei ao convite e, ao invés de segui-los, vim aqui escrever o que esse comportamento traduz tão claramente sobre o meu eu de hoje: eu quero estar lá, mas não quero ir até lá. Eu sei que é o contrário do dito taoísta de que mais vale o caminho que o destino final, mas é nessas vias que minha alma encara a vida nestes dias. Vias essas que, bem sei, não levam a lugar nenhum. Torço para que isso mude e tive indícios de que isso vai acontecer. Ontem à noite ao ir fumar no lugar que me é de costume (do lado de fora do apartamento, ao lado da porta de serviço) dei de cara com um enorme (e, para mim, urbanóide, assustador) louva-a-deus, de uns dez centímetros de comprimento. Pouco menos de um mês atrás, nas mesmas condições havia postado-se na área de serviço uma esperança. Ambos os insetos são sinônimo de boa-aventurança na crendice popular e o encontro de ambos num espaço tão curto de tempo inundou-me com saborosas expectativas de dias melhores. Não que eu seja dado à crendices, mas quem não o é um pouco quando essas se apresentam?

Dos pensamentos saborosos sobre sorte e fortuna, passei a pensar em probabilidade e seus mistérios. Qual a probabilidade de, em um intervalo tão curto de tempo, dois insetos tão raros nos centros urbanos virem a dar as caras num mesmo apartamento, localizado a onze andares do chão? Por que um deles não foi parar no apartamento ao lado, ou no que está abaixo? Que odor especial terá o meu apartamento para atraí-los? O odor da minha desgraça? Do meu cigarro? Bem pode ser este último, posto que fumo a não mais poder, mais do que qualquer outro morador das redondezas, tenho quase certeza.

De qualquer forma o pensamento sobre probabilidades foi atraído, como todos são, para Beatriz e fiquei a cismar sobre a probabilidade dela ter vindo ao mundo. Fosse o outro espermatozóide a ganhar a corrida, fosse o óvulo do período anterior o fecundado e não existiria Beatriz. E ela me seria inconcebível, inimaginável, como o são o resultado da fecundação do óvulo anterior ou o fruto do segundo espermatozóide mais esforçado. Mas duvido que viessem a ser mais maravilhosos e encantadores que ela. Não consigo imaginar como. Louvo a Deus por ter sido ela a sair daquele ventre abençoado e a me encher de esperanças.

XXXXX

Também fui resultado das mesmas (im)probabilidades, prova de que nem sempre o destino ou o acaso são tão sábios assim, porque senão não teriam botado no mundo uma batata quente que meu pai e minha mãe vivem a passar um à mão do outro, assim que lhos esquentam os dedos. Não queria ser um problema, mais o sou. Ou tenho um problema, o que dá no mesmo, para os que de fora assistem e suportam meu trôpego vagar pelos dias nas minhas condições atuais. Muitas vezes, sinto que acham que é tudo fingimento, preguiça, mimo. Muitas vezes penso eu o mesmo. Mas aí me lembro dos dias bons em que era produtivo, em que não dava trabalho, em que tinha um trabalho, e tento me convencer que não é só isso. Sei que deve ser chato a algum possível e improvável leitor, ficar falando das minhas mazelas existenciais, mas são elas o principal assunto dentro de mim. Elas e Beatriz, como já deve ter ficado claro (só que sei que, de amor, ninguém cansa de ouvir nem de falar [já de desamor, ainda mais por sigo próprio, ninguém quer saber]). Mas esta é a vantagem de escrever um blog para ninguém, posso dizer o que quiser.

Vou contrariar meu estado de espírito atual, tomar um banho e ir atrás do bloco. Preciso fazer isso para sentir que luto contra o meu mal. Se bem que preferia que Beatriz chegasse e eu descobrisse para onde ela e os amigos iam e tentar arrumar um espaço para mim. Ah, não posso fazer isso. Combinei comigo mesmo que não mais o faria, para não constrangê-la. Tomar banho e ir pro bloco. Ai, como isto vai me custar. Espero que os benefícios compensem (embora saiba que não). No próximo post conto como foi (é ridículo falar como se houvesse alguém além de mim a ler essa parvalhada, mas é gostoso viver com tais imaginações).

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

PONTADA


A depressão hoje me veio diferente. Embora tenha passado o dia já relativamente deprimido (ou seja desanimado, desestimulado e triste), não havia tido nenhuma vontade suicida até ainda há pouco. A sede de morte me veio como uma pontada, como se a alma latejasse de angústia e desespero por alguns minutos e depois calasse de volta à sua macambúzia tranqüilidade. Da mesma forma como veio se foi, como se tivesse sido levada pelo vento.

Ademais, a sede de morte tem me vindo geralmente durante a noite, antes do sono, quando a solidão daninha e implacável se abate sobre mim na treva do quarto. Quando ficamos só eu e meus pensamentos e quando estes se tornam o mais feios e desiludidos que podem ser. Eles me chamam para a varanda, para o pulo final. E repetem. E fico eu remoendo essa ânsia dilacerante do fim, insone, à espera de um sempre atrasado Morfeu vir me resgatar da minha consciência doentia.

Assim têm sido minhas noites. Os meus dias têm sido menos medonhos, mas longe de felizes. Claro que tenho minhas alegrias, mas elas são pintadas sobre um fundo nublado de melancolia. Como uma música que não se consegue apreciar devidamente por causa de um zumbido ou chiado. Chiado do ser. Zumbido da alma. Acho que é a porra do remédio quinzenal. Não, não é só isso. Tenho que ser sincero comigo mesmo. É essa porra de ter que ganhar dinheiro com o que eu não quero fazer. Voltar a redigir para publicidade não me fez bem. Fazer essas ilustrações não me faz bem. Não é o que eu quero. Simplesmente não é. O que eu quero é ter minha lojinha no eBay e outra no Mercado Livre. Mas já quis tanta coisa diferente e nada. Porra, continuo achando que a porra do remédio está me afetando. Tive outra latejada agora mesmo. Se não for o remédio, vou ficar sem muitas alternativas de a quem culpar. Culpar a mim? Mas isso eu já faço o tempo todo. E culpo a doença por isso. E culpo o remédio pela persistência da doença. E só não me acho uma garotinho filho da puta mimado porque existem outros como eu no mundo, que vivem à sombra do suicídio e que não conseguem nem o podem evitar. Mas eu sou uma garotinho filho da puta mimado. Eu sou um merda. Eu sou um merda. Eu sou um merda. Porque eu não me enquadro? Por que eu não me enquadro? Por que eu não me conformo, entro na porra da fôrma? De alguma fôrma qualquer, na qual eu não dê trabalho a seu ninguém. Na qual eu não precise de seu ninguém? Por quê? Por quê? Que raiva de mim, de ser eu, de não conseguir ser eu, de não conseguir deixar de sê-lo. Em espirais infinitas de desgosto por mim mesmo, lateja de novo a idéia: “a melhor fôrma que você pode ter é a de não ser, assim não dá mais trabalho a ninguém, nem precisará de ninguém”. A alma lateja, lateja à espera de dias mais felizes, que sei que virão. Sempre passa. Sempre passa. Sempre passa. Queria tanto um colo e me abraçar/enroscar bem apertado a ele. Mas, curiosamente, não o da minha mãe. De outra mulher. Queria nascer de novo. Ou desnascer.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

IMITANDO EUGÉNIO DE CASTRO


Olhar,olhar, fruto brilhante do espírito. Fio que liga o mundo à alma. Olhar que pode cortar como navalha, pode adoçar como mel, pode agredir ou entender, pode sorrir, pode chorar; que pode mentir (mas que nisto não é lá muito bom, pois olhares não foram feitos para mentir ou esconder, mas para revelar). Aqueles que sabem olhar com os olhos de mentira, estes não os quero. Quero o olhar límpido e cristalino, quero o olhar que traz consigo e à tona o que há por dentro do outro. Não me incomodo que me extraiam pelos meus olhares o mesmo de mim. Não tenho vergonha do que aqui dentro vai, do que aqui dentro passa, do aqui dentro é tudo que sou.

PICANTE


Meu apetite sexual não é tão voraz quanto a mídia faz supor que seja o normal de nossa sociedade brasileira. Entretanto, como conversei muito sobre sexo esta tarde, o assunto me ficou na cabeça.

Dos nomes para o sexo da mulher o que menos desgosto é xoxota. Vagina me parece muito científico/médico, xereca me parece anti-higiênico, buceta me parece muito vulgar, periquita me parece muito infantil. Não lembro de outros. Acho, na verdade que não inventaram substantivo à altura da experiência visual e táctil que é uma xoxota. Cu, por outro lado, me soa perfeito para o que é, assim como furico, oiti, botico, caneco. Ânus já não gosto, me soa a cu doente. De qualquer forma o cu foi, sem dúvida, mais privilegiado com suas definições que a xoxota. No meio do caminho fica o pau, cacete, rola, pinto. Todos esses me apetecem. Caralho, bimba, benga, bilau, já não me remetem muito ao membro, parecem-me descrições platônicas/imateriais – mais do conceito da coisa que da coisa em si.

Interessante que eu saiba mais sinônimos de cu e pau. Acho que talvez se deva a prevalência destes nas tirações de sarro, piadas e xingamentos.

Mudando de pau pra cacete (ou melhor, de cacete para xoxota), não que me seja desagradável a escuridão úmida e escorregadia, um tanto frouxa/elástica da xoxota, mas preferia que ao penetrá-la me esperasse lá dentro a mão de uma ninfeta que se pusesse a envolver e pressionar agradavelmente, com seus dedos e palmas macias e suaves, todo o meu pau. Isso ocorra talvez por eu ter tirado, ao longo da vida, mais prazer das minhas masturbações do que das minhas penetrações. Parece que em francês chamam o gozo de la petite mort (pequena morte [acho que vi isso num filme]) e é assim que me sinto depois que gozo numa penetração, como se tivesse morrido um pouco, como se velasse um pouco, e esse sentimento me incomoda. Na masturbação, estranha e felizmente, isso não me ocorre, é uma ejaculação banal, simplesmente uma prazerosa extração de fluidos corpóreos. Acho que dou dimensão muito grande ao sexo dual (nada sei de sexo grupal e não me apetece). Para mim é preciso uma dedicação e um desejo tão grandes que é cansativo entregar-me assim com freqüência. A freqüência exagerada me aborrece do sexo, não tenho forças ou ânimo para me entregar completamente, até porque é como saciar uma fome que ainda não sinto, torna-se um ato de obrigação filantrópica à parceira (e, curiosamente, muitas vezes, o é para ela também, o que se dá por causa dessas rotinas mal conversadas/resolvidas das relações humanas).

No outro extremo do espectro, há a primeira vez com uma parceira, um processo extremamente excruciante para mim, não pela falta de ânimo ou desejo, mas pelo medo do fracasso. Perfeito seria se cada nova parceira me tratasse como virgem, porque afinal, eu sou virgem do seu corpo, dos seus detalhes sensuais, sou virgem porque certamente irei gozar rápido, sou virgem, em uma palavra, pelo sentimento de inexperiência que me domina e amedronta. Torno-me cordeirinho, acuado. Demora para que irrompa o lobo. Tenho medo de penetração. Pelo menos adoro beijar e lamber cada parte de uma mulher. Espero que isso tenha compensado as coisas para minhas poucas parceiras.

Outra curiosidade sobre minha sexualidade é que nunca comi uma puta. Não que não tenha tentado (tentei três vezes, uma das quais me custou R$ 400,00), mas porque não havia desejo do outro lado, não havia intimidade, não havia carinho, não havia para mim o que é mais fundamental no sexo.

XXXXX

Já fui casado, melhor dizendo, ajuntado, por dois excelentes e educativos anos. Não conseguimos evitar que o sexo caísse na rotina, mas o sexo, pelo menos para nós, era apenas uma fração da relação. Uma fração igual a ir fazer as compras juntos, jogar videogame, ver um filme, cozinhar, andar de ônibus, dormir juntos, tomar umas com os amigos. Descobri que o mais importante numa relação é que um se divirta com o outro. Enquanto for divertido compartilhar a vida com alguém, a relação é válida, a relação é estável, sadia, boa. E nos divertimos muito um com o outro até o fim (causado pela minha dependência química e as reiteradas recaídas que derivam dela).

domingo, 8 de fevereiro de 2009

LITTLE JOY, BIG FUN


Show do Little Joy e o que mais gostei foi das interações que tive, antes e depois do espetáculo, com Beatriz. Não que o show tenha sido ruim, pelo contrário, foi uma celebração à alegria, a little joy in itself.

Primeiro, ela me chamou sentindo-se um pouco perdida e sozinha por ainda não ter encontrado alguém conhecido o suficiente para acompanhá-la. Sentei-me ao seu lado enquanto ela contatava a amiga por celular. Dei a dica de dar o Banco Real como referência de sua posição, o que ela, de fato, fez (enchendo meu coração de pueril alegria, pois pensei que ela nem tinha ouvido).
Depois, na saída do show, deslizei delicadamente a mão por sua cintura (é sublime tocá-la, mesmo que de leve) para chamar-lhe atenção e perguntar se havia subido ao palco na canção final (convite feito ao público por um ingênuo Fab Moretti), o que ela confirmou. O fato de não ter se sobressaltado com meu toque, como das vezes anteriores, me deixou extremamente feliz, mesmo sabendo que isso só ocorrera porque ela julgou, antes de me ver, tratar-se de outro conhecido qualquer.

Sobre o show, o Little Joy estava se sentindo em casa (Amarante pela relação afetiva dos Hermanos com Recife, Moretti por estar desbravando território brasileiro). Binki Shapiro era a mais cool/distante de todos (havia um guitarrista de apoio e um baterista, além do trio), mas esse é o jeito dela mesmo. Todos estavam muito à vontade no palco, Amarante e Moretti interagiram bastante com a platéia (ambos em Português), que respondeu calorosamente.

Parecia que estavam tocando na sala de estar de um deles, tão descontraída e alegre foi a performance (o que, por sinal, tem tudo a ver com o clima do disco) e, mesmo assim e por isso, tocaram todas as canções com beleza e perfeição. Houve uma ação de marketing do Abril Pró-Rock no evento, com meia-dúzia de pessoas vestindo camisas com os dizeres “Venha ver o outro Hermano no Abril Pró-Rock” e usando máscaras de Marcelo Camelo. Bem pensado e um tanto acintoso na minha opinião. Ao voltar de uma fumadela com cerveja (não se pode beber nem fumar dentro do Teatro da UFPE, local do evento) para ouvir minha música predileta, Brand New Start, dei de cara com uma cena inesperada: o palco tomado por muitas dezenas de pessoas, sendo-me impossível, à distância, distinguir quem eram os músicos e quem era o público. Nem sei como conseguiam tocar, tamanho o tumulto e a concentração de pessoas lá em cima. Era a grande festa final e o melhor: ao som minha música predileta.

Enfim, foi um show onde todos estavam de excelente astral dentro e fora do palco e onde eu interagi duas vezes com Bia. Não poderia pedir mais.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

VERÃO

Era uma linda tarde de verão. Linda como só as tardes de verão podem ser. Os pés fincados na areia, sentindo a textura granulosa entre os dedos, sentindo o contato direto com aquela praia, com a natureza. A cidade era um pensamento esquecido, assim como tudo o que ela poderia evocar. Tudo era aquele momento, o sol começando a descer e deixar reluzentes as ondas do mar, que se abria, infinito, à sua frente. Tudo era aquela praia, aquele verão, aquela falta de preocupações, aquelas amigas ao seu lado, uma, inclusive, no seu colo. De repente, um comentário esdrúxulo, bobo mesmo, e tudo se ilumina ainda mais com gargalhadas. É tudo tão leve, tão fácil, tão amável que gargalham às lágrimas, respiram um pouco, olham-se umas às outras e recomeçam a gargalhar. São jovens, mas já podem viajar sem os pais. Alugaram uma casa, compraram um bocado de cerveja e, claro, vodca para os coquetéis básicos (aliás, àquela altura elas já haviam tomado duas jarras de uma refrescante batida de acerola e estavam superiormente alegres). Mas a felicidade que sentiam se devia muito pouco ao álcool. Havia outros fatores mais importantes: o fato de serem férias (melhor ainda: férias na praia), o fato de serem amigas desde a recém-passada infância (o que pra elas é o tempo de uma vida), o fato de se sentirem livres e donas de si.

O sol foi caindo e tingindo de tons avermelhados a areia e os coqueirais, suas peles já douradas pelos dias sob o sol tornaram-se ainda mais douradas com a luz crepuscular. Crepúsculo que trouxe sobre elas uma certa melancolia poética, uma saudade não sei de quê, não sei de onde. Se aninharam ainda mais juntas umas das outras para se esquentarem mutuamente, já que a brisa que anuncia a chegada da noite começara a soprar. A tarde caiu sobre elas em forma de ternura, de carinho, cuidado, de intimidade sem pudores. Eram amigas, enfim. Estavam juntas sendo elas e delas mesmas e de mais ninguém. Haveria os homens mais tarde, à noite, na balada, é certo, cada qual com o(s) seu(s). Mas, naquele momento, só o momento importava: se bastavam elas, a praia, a tarde e o mar: o verão.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

MIGALHAS DE MUSA



Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão


Lidar com a minha musa me dá o mesmo frio na barriga que daria estar na mesma sala com Sandy, Natalie Portman ou Björk (muito embora minha musa só tenha esta alteza de pop star pra mim e mais ninguém [creio e espero eu]). Quando estou no mesmo ambiente que ela (o que tem acontecido com freqüência [por iniciativa completamente minha, obviamente]), parece que tudo em mim enrijece, trava, como estivesse ofuscado por uma luz maior que eu, que me paralisasse e diminuisse. A dureza que toma conta do meu corpo – inclusive da língua – é resultado não só da grandeza e importância que ela ocupa e tem na minha alma, mas também do cuidado de tornar minha presença o menos intrusiva e desagradável para ela. Cuidado para não deixar transparecer na minha fala e nos meus gestos e olhares o que ela já sabe que eu sinto e o que eu já sei que ela rejeita. Sim, já me declarei para ela, de forma imprudente e desesperada, pois o fiz através de um e-mail que enviei antes de uma das minhas tentativas (ridículas) de suicídio. Quando escrevi só pensava em não morrer com aquele – este – sentimento preso na garganta.

Entretanto, tê-la feito – a declaração de amor – agora que continuo vivo, foi a pior atitude possível, pois, depois disso, ela nunca mais foi a mesma comigo e me evita (sempre muito respeitosa e educadamente, merece-se acrescentar) fazendo o máximo para me magoar o mínimo. Esse esforço a torna ainda mais linda, principalmente por ser uma beleza interior. Aliás, minhas beatrizes (neste blog chamo de Beatriz meus amores passados, presentes e futuros) todas tinham um interior belo ou, no mínimo, interessante. Esta Beatriz de agora nunca se tornaria minha musa se, além da sublime beldade exterior, não tivesse também algo dentro de si igualmente encantador e magnânimo e alegre. Um belo caráter, em uma palavra.

Por causa dos motivos supracitados, mal conversamos e nos olhamos no olho, apesar de minhas visitas freqüentes à residência dela. Eu meio que a evito e ela faz o mesmo... Queria tanto ao menos conversar com ela, tomar uma cerveja e ir descobrindo o que há além do véu das aparências. Descobrir mais precisamente quem é a pessoa Beatriz, a Beatriz cotidiana, saber quão diferente ou semelhante ela é da musa que eu tanto amo e idealizo. Duas pessoas conversando, apenas isso. Seria fantástico para mim. Mas estarmos a sós nos é doloroso justamente porque o sentimento foi revelado. Esse amor conhecido e rejeitado cria uma muralha invisível, porém quase palpável, entre nós. Ficamos ambos incomodados porque ambos sabemos que um espera loucamente por um sim e o outro só tem não a oferecer. É precisamente deste ruído de sentimentos que é feita a muralha. E, nem ela, nem eu conseguimos transpô-la. Nenhum dos dois consegue sair do papel de musa e devoto quando nos encontramos. Acho inclusive que ela me evita para não me dar falsas esperanças. Então fico a catar migalhas da sua presença e de sua atenção para aplacar mesmo que apenas uma parte infinitesimal da grande fome que o meu ser tem dela.

Não gosto destas propriedades imanentes de musa de ser inacessível, intangível, idealizada. Gostaria de tê-la companheira e não musa, mesmo que companheiras tenham defeitos e musas não. Com companheiras, entretanto, nós conversamos, repartimos vida, compartilhamos, nos tocamos, choramos, rimos, temos prazer um com a presença do outro. Pena que seja virtualmente impossível fazer com que Bia desça do pedestal e venha ficar ao meu lado. Sei que ela mal pode apreender as dimensões imponentes do pedestal e sei que está desconfortável em seu topo. Mas me é incontrolável tê-la como musa e, inevitavelmente, continuará sendo musa até meu coração decidir de outra forma. Pena que meu coração seja tão consistente e resistente em relação a Beatriz. Há mais de nove anos a coloquei no pedestal e desde então ela está lá, cristalizada, perfeita e linda em minha alma, atirando-me migalhas sem querer. Não me atiraria nada se fosse humanamente possível, não por maldade, mas pensando que assim me pouparia da desiludida ilusão, do desamor que é só o que ela tem a me oferecer. Mas, desatenta dos caminhos do meu coração, tudo o que conseguiria era se tornar ainda mais dolorosa e completamente musa.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A LIBIDINOSA GANÂNCIA

É interessante como a ganância é contagiante. Agora que penso em ganhar dinheiro por mim mesmo (sem ser empregado), minhas narinas ficam mais abertas, aguçando o olfato para qualquer nova oportunidade, a cara fica cada vez mais amadeirada, lustrosa e a excitação por prospectar o vil metal torna-se quase libidinosa. Não pretendo ser um ladrão, entretanto. Nem tampouco pretendo ser a mula de carga dos outros. Pretendo ser um negociador justo, que se auto-valoriza e valoriza os produtos que oferece, porque se esforça para oferecê-los com qualidade e valia. Mesmo assim, com estes patamares pré-estipulados, a venenosa ganância ronda e tenta me enganar com seu balé do lucro fácil e irresponsável. É uma dançarina das mais sensuais, mas que não se deitará comigo. Não quero sujar minha cama. É fácil, entretanto, entender porque tantos se inebriam e se apaixonam loucamente. Acho que torno-me relativamente imune somente por minha natureza, que nunca foi de ter a riqueza como meta de vida maior que a tranqüilidade.